Produtores portugueses recorreram ao subsídio da Comissão Europeia para combater crise no setor, mas tem-se revelado insuficiente. Preços continuam em queda livre e distribuição é acusada de concorrência desleal.

Descrição – Portugal diminuiu voluntariamente em 24% a produção de leite entre outubro e dezembro de 2016, no âmbito do programa lançado pela Comissão Europeia para fazer face à crise no setor – isto depois de a produção de leite nos últimos 36 anos (1980-2015) ter mais que duplicado, passando de 970 mil toneladas para dois milhões de toneladas. Com este crescimento alcançou a terceira maior taxa de variação anual homóloga da produção em 2014 e em 2015 atingiu o sexto maior volume de produção, segundo revelam os dado publicados pelo Instituto Nacional de Estatística.

Com o fim do regime de quotas leiteiras, em abril de 2015 – uma situação que os produtores querem reverter -, a União Europeia produziu mais leite do que no mesmo período em anos anteriores. “Esta menor variação relativa dos preços na produção pode refletir a pressão exercida pela grande distribuição que afeta a distribuição do rendimento pela cadeia de valor”, salienta o INE.
Este crescimento obrigou a Comissão Europeia a impor um travão, apresentando aos produtores um subsídio para reduzir a sua produção. Quase 44 mil agricultores de toda a União Europeia – 912 em Portugal – aderiram ao programa, o que resultou numa quebra de 851 700 toneladas, uma média de 19 toneladas por agricultor.

O valor da ajuda foi fixado em 14 euros por 100 quilos de leite reduzido, correspondente à diferença entre o leite entregue no período de referência e o leite entregue no período de redução.
Para beneficiarem deste apoio, os produtores tinham de ter reduzido “voluntariamente as entregas de leite de vaca durante um período de três meses, quando comparado com o mesmo período homólogo”.
A ideia da Comissão Europeia foi clara: atribuir incentivos financeiros aos produtores para reduzir a produção, numa altura de excesso de leite no mercado e de preços baixos.

Nem esta ideia de redução de produção aliada ao fim das quotas leiteiras – uma medida implementada em 2015 – conseguiu travar os preços baixos. Em Portugal, os valores pagos aos produtores de leite de vaca estão em queda consecutiva há três meses.
A situação não tem agradado à Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep), que tem vindo a reivindicar o aumento do preço do leite, assim como a Associação Nacional dos Industriais de Laticínios(ANIL),  afirmando que os produtores não querem depender de subsídios, mas sim receber um preço justo pelo fruto do seu trabalho.
Há que contar ainda com a queda do consumo contínua nos últimos anos. Segundo dados do INE, os portugueses estão a ingerir cada vez menos leite.
A verdade é que as campanhas para apelar ao consumo de leite têm-se multiplicado. O objetivo destas campanhas passa por dar a conhecer os benefícios do leite e produtos lácteos assim como promover a elevada qualidade da produção nacional.
Fonte: ionline