A felicidade é um objetivo humano fundamental e é, neste momento, a grande preocupação de governantes, autarcas, gestores, empresários, líderes associativos; o mesmo será dizer, de todas as organizações, independentemente da sua natureza. Todos ambicionamos o mesmo: ser felizes no trabalho e fazer felizes os que trabalham connosco.

Só que a felicidade, ao contrário do que possa parecer com o bombardeamento de informação motivacional e positiva a que temos assistido, não é como um elixir que se toma e torna felizes os nossos colaboradores. Esta pressão externa de se “ser feliz”, como refletem Edgar Cabanas e Eva Illouz no seu livro “A Ditadura da Felicidade”, faz-nos aliás acreditar erroneamente que o bem-estar e a felicidade podem ser permanentes. A felicidade carece, na minha opinião, de uma abordagem sustentável por parte das organizações.

A felicidade é uma opção individual, que passa por aceitar todas as nossas emoções, positivas e negativas, os sucessos e os fracassos, pelo que acredito que deve ser abordada através de uma metodologia inside out e não outside in. Ou seja, apesar da preocupação das organizações com o bem-estar dos colaboradores, mediante a implementação de medidas e planos estratégicos de felicidade numa abordagem de fora para dentro e “imposta” poder ter impacto, não é, na minha ótica, tão eficaz. É por isso que defendo a integração urgente de Happiness Managers certificados nas organizações ou, no caso de organizações mais pequenas, de pessoas que acumulem esta função, uma vez que é fundamental tratar o tema com a seriedade e sensibilidade que lhe são inerentes, para que estes façam uma avaliação ao bem-estar do colaborador também na sua vida pessoal, atuem a esse nível, para depois as estratégias gerais definidas e implementadas na organização sejam mais eficazes e sustentáveis. Ou seja, para que a felicidade possa ser um recurso sustentável nas organizações tem de se avaliar e agir ao nível da satisfação na organização, na função e – muito importante! – ao nível da vida pessoal do colaborador. Só assim teremos um impacto real na felicidade da organização. É assim que pensamos na ConsumerChoice.

Nos últimos anos, assistiu-se a um aumento significativo da investigação académica em felicidade. Se no início dos anos 70 a investigação se circunscrevia aos Estados Unidos e alguns países asiáticos, no ano de 2021, segundo o Relatório Mundial da Felicidade (WHR 2022, Capítulo 3), o número de publicações per capita atingiu o apogeu em quase todo o mundo, com exceção de alguns países sul-americanos e africanos.

Este interesse generalizado pela felicidade, bem-estar e saúde mental dos colaboradores intensificou-se primeiro com a pandemia, mais recentemente com as incertezas motivadas pela guerra na Ucrânia e pelo facto de o burnout ter sido considerado doença laboral pela OMS em janeiro deste ano. As organizações estão verdadeiramente preocupadas com o tema da felicidade. Se por um lado, estudos científicos levados a cabo pelo investigador Dacher Keltner, da Universidade de Berkeley, comprovam que felicidade e bem-estar contribuem para a resolução de um conjunto de problemas motivados pelo trabalho, nomeadamente o stress, problemas físicos e psicológicos, desmotivação e desconexão, tédio e distração, autocrítica excessiva, incivilidade no trabalho, contratempos e erros no desempenho das funções; por outro lado, a investigação fornece dados relevantes no que toca à redução do absentismo, maior produtividade e motivação, quando as empresas apostam na felicidade.

No contacto que temos tido com as organizações para falar do sistema de avaliação que desenvolvemos, muitas são as organizações que nos informam que já estão a fazer essa aferição junto dos colaboradores através de questionário interno. Ora, a felicidade, para ser um recurso valioso e sustentável para uma organização, não pode limitar-se à avaliação e a medidas apenas junto dos colaboradores. Para que essa felicidade seja um reflexo real da organização, temos de avaliar todos os stakeholders de uma organização: colaboradores, clientes e fornecedores.

O Relatório Mundial da Felicidade 2020 conclui que o desenvolvimento sustentável torna as pessoas mais felizes e que há uma ligação positiva entre o contributo para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o bem-estar das pessoas. Podemos fazer um paralelismo com as organizações. No âmbito da Agenda 2030, da ONU, as organizações também têm um papel importante para as taxas de cumprimento dos ODS. Ao implementarem estratégias para a felicidade organizacional, que contribuem de forma inequívoca para o ODS 3 – Saúde e Bem-estar, promovendo a saúde mental e o bem-estar dos colaboradores, e para o ODS 8 – Trabalho Digno e Crescimento Económico, através da implementação de medidas e estratégias que contribuem para organizações sustentáveis, tenderão a evidenciar níveis de bem-estar e felicidade mais elevados.

Em suma, a felicidade e o bem-estar das organizações são um critério de sustentabilidade económica e afeta todos os players da economia. Acredito que, num futuro próximo, o índice de felicidade organizacional, da forma como o vemos na ConsumerChoice – abrangente e através de uma avaliação 360º – terá a mesma importância que os recursos financeiros ou humanos e que a felicidade se assumirá como o recurso sustentável por excelência nas organizações.

Teresa Preta

Managing Director

ConsumerChoice

 

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