Seremos todos doutores na nova era de informação na Saúde?
 
Recordo-me de há cerca de uns 20 anos ter participado com uma palestra, num evento da industria farmacêutica, sobre tendências na saúde e ter referido que “o paciente do futuro dialogaria com os profissionais de saúde sabendo quase tanto como eles”, aprendendo a fazer pré-diagnósticos, dando sugestões de tratamento e discutindo com os médicos como se estivessem ao mesmo nível.
Esse futuro chegou, já há alguns anos, e é consequência da facilidade de acesso à informação e que hoje nos permite, à distância de uma busca, saber tudo.
A maioria das pessoas consegue fazer autodiagnóstico médico pela internet, sendo que a maioria possui formação superior e está na idade dos 16 aos 40 anos. É também uma consequência da forma rápida como vivemos, no imediatismo, em que não aceitamos nem toleramos qualquer razão para não ter informação na hora.
Há 30 anos a internet veio modificar todo o sistema de informação na área da saúde e hoje chegamos aos consultórios com opinião formada e soluções de tratamentos, muitas vezes incorretamente, tornando-se num efeito perverso e de grandes risco.
O acesso à informação e em particular a informação médica é um fenómeno irreversível e isso veio igualmente alterar a relação entre os profissionais de saúde e os pacientes ou os consumidores. No passado entrávamos num consultório, sentávamo-nos, ouvíamos e obedecíamos ao profissional de saúde. Hoje, debatemos os tratamentos, opinamos e em alguns casos complementamos os que nos é prescrito.
A relação médico – paciente tornou-se complexa, em determinados casos mais fácil face ao domínio da informação, noutros mais difícil pelo domínio dessa mesma informação errada.
O número de pacientes que chegam aos consultórios com autodiagnóstico e automedicação é crescente e muitos deles correm, por vezes, situações de risco por erros nessa mesma avaliação e medicação. A relação entre médico e paciente deve ser fortalecida para evitar que as pessoas tenham consequências mais graves. A maior parte das doenças começa com dor, febre, indisposição, sintomas mais gerais que podem ser sintoma de uma febre ou de algo mais grave. A internet pode ser fonte de informação, mas não deve ser usada para diagnósticos nem para iniciar tratamentos. O Dr. Google não diagnostica, não faz exames complementares, prescreve medicamentos. É fundamental uma utilização responsável da informação, porque ela é fundamental, assim como a tecnologia.
O envelhecimento populacional e a carga de doenças crônicas não transmissíveis são desafios à política mundial e ameaças à sustentabilidade dos modelos de saúde e assistência social e a tecnologia, através da inteligência artificial, das tecnologias de “deep-learning”, “e-learning”, “big data”, informação estruturada e não estruturada vão criar uma dicotomia e um grande desafio entre a vida biológica e o que podemos chamar de vida tecnológica também na saúde.
Há dias, falava com um dirigente de uma associação internacional de cuidados médicos, que me referia que apesar da informação existente, não aproveitamos ainda nem 25% do que poderíamos aproveitar para autodiagnósticos e sobretudo para controlo da nossa saúde e melhor condição de vida. É verdade e claro que essa informação e essas plataformas de diagnóstico devem ser criadas, geridas, supervisionadas por entidades com competência em cada área do saber.
Vivemos uma era de “empowerment” dos doentes, é inegável, mas o presente e o futuro serão cada vez mais isto.
 
Texto de José Borralho, CEO – Consumer Choice