A grande questão que se tem vindo a colocar à maioria das pessoas é até que ponto esta pandemia vai afetar a economia e quais são os cenários de crescimento e recuperação. 

 

É certo que teremos demissões em massa, provocadas pela enorme queda de procura em alguns sectores, afetando em particular as micro, pequenas e médias empresas, historicamente as mais afetadas com todas as crises. Estima-se, de acordo com dados da OIT – Organização Internacional do Trabalho, que o coronavírus contribuirá para eliminar entre 5,3 e 24,7 milhões de postos de trabalho, a nível mundial, e que entre 8,8 e 35 milhões de pessoas poderão entrar numa situação de “pobreza laboral”. Dentre os grupos mais vulneráveis, estão designados “trabalhadores de recibo verde” por não terem uma rede de segurança. O fator laboral é de tal forma importante nesta pandemia, que as pesquisas do Google já mostram que a intensidade de procura de frases com “desemprego” e “seguro desemprego” atingiram seus níveis mais altos dos últimos 12 meses. 

 

Não há dúvida que a economia global está a caminho de uma grande recessão, principalmente devido à quebra geral na procura provocada pela quarentena de milhões de pessoas, mas as consequências financeiras não serão as únicas decorrentes da pandemia que o Mundo atravessa atualmente. Serão muitos os aspetos da vida social e coletiva impactados pelo vírus e que nos levarão a novos. Uma análise da consultora internacional Mandalah desvenda alguma das alterações sociais e comportamentais esperadas.

 

Desde logo, começando pelo aspeto laboral. O isolamento social obrigatório imposto pela maioria dos países, originou uma onda de teletrabalho jamais vista. Esta é uma mudança enorme que representa várias oportunidades e ameaças para os departamentos de recursos humanos. Mais de 100 milhões de pessoas economicamente ativas apresentam maiores dificuldades de adaptação às novas tecnologias e formas de trabalho e os principais riscos dessa mudança são a falta de infraestrutura tecnológica, bem como a conjugação com o espaço de trabalho e de família, em particular para os que possuem crianças em idade escolar. Mas se o desafio da organização para funcionar em teletrabalho é um risco, é também uma oportunidade para equacionar um modelo que seja mais justo e equilibrado na relação com a família, bem como para contribuir para um menor impacto ambiental.

 

No que respeita à educação, o isolamento social desencadeou a paralisação das escolas. Embora encontrada alternativa através do ensino à distância, as crianças mais pequenas precisam de tutoria e dependem de um novo modelo de ensino à distância, sob pena e aumentarmos a desigualdade social e criar desemprego futuro. Esta nova experiência para alunos e professores levará a equacionar um ensino de forma diferente e sobretudo dando oportunidade à tecnologia para antecipar um modelo pedagógico que está destinado a vingar.

 

Um dos maiores riscos desta pandemia está na alimentação. Por um lado, pode estar em causa a diminuição das atividades da cadeia produtiva de alimentos e com ela um sério risco de impacto no abastecimento desses produtos, a que acresce o facto de transportes de cargas também poderem vir a ter suas atividades prejudicadas por falta de serviços de manutenção. Por outro, teme-se a possível instabilidade dos preços dos alimentos, o que teria um efeito nefasto na população de rendimento mais baixo. Por último, a questão logística da distribuição. Temos vindo a assistir a alternativas, em especial a elevada procura das compras online e serviços de entrega de alimentos, isto só se torna possível a quem trabalha com stocks grandes, mas não deixa de ser uma solução para negócios restaurantes, supermercados e farmácias. Passada a pandemia ficará provavelmente (os números dir-nos-ão) o desafio da maior digitalização do consumo para a maioria dos serviços e retalho.

 

Se os equipamentos e atividades culturais foram os primeiros a ser fechados, evitando aglomerações e com isso o adiamento de eventos em todos os países (milhões deixaram de ser pagos a artistas e outros profissionais da cultura), rapidamente o sector encontrou nas redes sociais forma de manter o interesse cultural aceso nos seus consumidores. Alguns concertos diretos no Instagram chegaram a ter 30.000 smartphones ligados, representando mais de 50.000 espectadores, o que deixa no ar uma oportunidade de modelo de negócio para o futuro dos artistas e indústria musical. Mas mesmo assim há todo um sector cultural em risco de colapso. Sessões de cinema, espetáculos de teatro, concertos, feiras, festivais, exposições, museus, tantas atividades que dependem de aglomeração de pessoas para sobreviver, sofrem grandes prejuízos por conta da necessidade de isolamento social. 

 

Em termos de saúde, para além daquilo que já é conhecido diretamente em torno do vírus há um conjunto de outros fatores que nos devem preocupar. Assistiu-se à redução na prática de exercício físico, com os ginásios e health clubs obrigados a fechar por tempo indeterminado e toda a práticas de desporto individual e coletivo canceladas. Nem todos tendo espaço ou equipamentos necessários para adotar este tipo de prática em casa, corre-se o risco de aumento de peso e do nível de sedentarismo e obesidade da população, mas sobretudo receia-se o aumento dos níveis de depressão e, principalmente, ansiedade pela redução da prática de exercício físico e falta de entretenimento. 

 

São estes diversos sentimentos negativos (raiva, stress, irritação, ansiedade, medo, solidão) decorrentes do isolamento que podem ser prejudiciais à saúde mental. O bombardeio de informações e de conteúdos gratuitos disponibilizados também podem aumentar a ansiedade. Segundo estudo da BBC, 40% dos jovens já se sentem sozinhos nos tempos de hoje. Existe aqui uma oportunidade para programas online e até mesmo televisivos que promovam o exercício e o entretenimento em família, bem como apoio psicológico personalizado com vista à promoção do bem-estar.

 

Os políticos não ficam imunes aos efeitos do coronavírus.  A forma como a liderança política é desenvolvida virá a criar mais ou menos perda de confiança nas instituições e originar crises políticas, derivado do impacto e soluções a nível económico, nomeadamente para proteção das empresas e famílias. Poderão ser as últimas vítimas, mas no momento de balanço da pandemia, os eleitores não perdoarão. Há claramente uma oportunidade para um trabalho sério, honesto e focado no bem geral do país e sobretudo sem aproveitamentos partidários.

 

Por último e mais relevante trata-se do impacto ao nível do relacionamento. Começou por ser abordada, até graciosamente, pela forma como evitámos os cumprimentos, mas rapidamente se percebeu a gravidade da sua extensão. Documento oficial da ONU Mulheres indica preocupação com o crescimento dos casos de violência doméstica e feminicídio desencadeados pela tensa situação de isolamento, uma problemática social já existente e que se pode agravar diante da exposição da família a uma maior convivência.

 

Apesar do risco de contágio pelo contato físico, existe um alerta por parte das organizações que trabalham com a proteção de crianças e menores de idade quanto ao aumento do número de abusos durante este período. A Unicef afirma que a China já analisa o crescimento da violência contra as crianças. Historicamente, em quadros de epidemia, houve o crescimento da exploração do trabalho infantil, do abuso sexual e da gravidez na adolescência.

 

Outro flagelo experimentado na China, foi o crescimento do índice de divórcios. A China registrou um aumento relevante no número de divórcios após a ordem de isolamento. É possível que o aumento da convivência entre casais, somado a um contexto de stress pelo medo da contaminação e recessão económica, tenha potencializado a fragilidade das relações. Neste capitulo abre-se uma oportunidade aos profissionais destas terapias para a disponibilização de um acompanhamento virtual focado no bem estar.

 

A todos os séculos há uma grande epidemia que muda o rumo do mundo e o comportamento de todos nós. Estamos a assistir à primeira do século XXI e deveremos aprender com ela.

 

Perante isto, nada será jamais como era é certo, mas pelo menos que sirva para ser melhor depois.

 


Conheça aqui o projeto de Marketing Escolha do Consumidor