A afirmação do presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) caiu que nem uma bomba junto do setor turístico e alimentou muita comunicação social. Mas o que disse afinal Elidérico Viegas? Que os prémios do turismo são comprados. Que por 500 libras é possível ser nomeado, até ganhar e é “tudo negociado”. Que Portugal tem arrecadado prémios que são comprados e só nós é que damos importância.
É verdade? Provavelmente, mas tem que ser devidamente contextualizado e explicado, sob pena de olharmos para todos os prémios ou “sistemas de avaliação” com desconfiança e julgar os respetivos empresários como burlões.
Diz o ditado que “quem não sente, não é filho de boa gente” e como empresário no setor (sou proprietário da ConsumerChoice e da Product of the Year) e sobretudo como líder de mercado, em sistemas de avaliação de marcas, não posso ficar calado.
Cabe ao Turismo de Portugal vir esclarecer esta afirmação e sobretudo explicar o processo de distinção, ou pedir a quem o organiza, como e porquê temos sido distinguidos.
Eu sei, muito bem, ao que se refere Elidérico Viegas e para ajudar-vos, vou aproveitar para fazer um paralelismo com o que se passa no sector não turístico.
Atualmente temos 11 iniciativas, dedicadas a marcas e produtos/serviços, deste género em Portugal e para perceber este mercado das avaliações ou prémios, como lhe chamam, é preciso perceber a sua estrutura.
Qualquer sistema de avaliação obedece a um de três tipos de sistemas:
- os absolutos, em que apenas as marcas inscritas são avaliadas, geralmente tendo que cumprir com a obtenção de uma nota mínima para ganhar o prémio, ou seja, são um reconhecimento apenas… creio que era aqui que o presidente da AHETA estava a enquadrar os prémios a que se referiu;
- os relativos, que por norma avaliam as marcas inscritas em relação a um ou dois concorrentes, na maioria dos casos sem expressão ou com critérios condicionados;
- e por último os analíticos, que decompõem as categorias alvo de análise, desde o contexto do comportamento dos consumidores, nomeadamente os aspetos que lhe são importantes, a performance as marcas, como se relacionam competitivamente, etc… tornando possível o entendimento do todo, visto que envolvem todas as marcas players da categoria na avaliação. Ou seja, o supra-sumo das avaliações. Em Portugal, a Escolha do Consumidor é a única desta última categoria.
Sejamos quem formos, cada vez que atribuímos um prémio, temos que ter a noção que estamos a provocar um desequilíbrio no mercado, estamos a favorecer uma marca, um produto, um serviço, até mesmo um profissional e a proporcionar-lhe uma vantagem competitiva e por isso temos que atuar em plena consciência da responsabilidade que isso implica. No meu caso, em particular, escolhi o caminho mais difícil e invisto anualmente uma pequena fortuna em estudos de mercado para perceber o que querem os consumidores numa categoria, o que mais valorizam dentro do que querem e como avaliam as diferentes marcas no mercado. Este método de trabalho, a nossa honestidade intelectual, o rigor e transparência que aplicamos é o que maioritariamente nos diferencia.
Não me canso de explicar isso às marcas com quem me relaciono, que devem escolher em função das regras que melhor os protegem, em função dos valores e princípios que também defendem. Mas, claro que como tudo na vida, há quem prefira o caminho mais fácil e aí a culpa não é de quem organiza e atribui os prémios, a culpa é de quem os “compra”. Na minha opinião, pessoal e profissional, não pode valer tudo e felizmente que não estou sozinho nisso…