Quem não se lembra do Coelho Branco da Alice no País das Maravilhas? Este coelho retrata o comportamento do ser humano que carrega um relógio de um lado para o outro sem ter tempo para parar. Sempre atrasado para os compromissos com a Rainha, a personagem está sempre nervosa e confusa, num ritmo frenético.

E é devido ao stress causado pelo ritmo acelerado do nosso dia-a-dia, com agendas preenchidas e horas de trabalho sem fim que parecemos, literalmente, o Coelho Branco apressado.

Não é apenas um coelho fofo e divertido, mas o stress que é retratado nesse personagem, assola-nos diariamente trazendo as devidas consequências para o nosso organismo e estado emocional.

O movimento Slow surgiu, precisamente, com o objetivo de combater essas rotinas frenéticas e convencer-nos o quão é importante abrandar o ritmo.

Atualmente queremos sempre fazer mais do que o tempo realmente nos permite e mesmo assim temos sempre receio de desperdiçar tempo, basicamente vivemos para trabalhar e não trabalhamos para viver.

O Slow Movement nasceu em 1986 a partir do movimento Slow Food – um grupo de ativistas protestou contra a abertura de um restaurante McDonald’s, em Itália. Defendiam a gastronomia tradicional, a cultura regional, a boa comida e o prazer de desfrutar a vida num ritmo mais lento e saudável. Neste momento, o Slow Food é um movimento global que envolve milhões de pessoas e milhares de projetos em pelo menos 160 países.

Adotar o Slow é preciso aderir um ritmo mais equilibrado. A prioridade é o bem-estar físico e mental e a promoção da saúde.

Slow compreende a vida como um todo através do desenvolvimento pessoal, social e o bem-estar geral, envolvendo o meio ambiente e a sustentabilidade. A ideia central é usufruir o tempo com maior qualidade para si mesmo, para as pessoas mais próximas e para a humanidade.

Na prática, as pessoas que adotam o Slow no seu quotidiano, costumam consumir produtos e serviços que derivam de uma cadeia produtiva mais responsável e sustentável.

Quais os valores do movimento Slow?

  • Respeito à diversidade, ao meio ambiente, cultura local e gostos individuais;
  • Valorização do desenvolvimento sustentável;
  • Investimento em produtos de maior qualidade e durabilidade;
  • Cuidado com as pessoas e a humanidade;
  • Valorização da qualidade em contraposição da quantidade;
  • Respeito ao ritmo natural da vida, das pessoas e da sociedade;
  • Apreciação da vida de forma integral, conciliando a educação, a saúde, a educação, a família, os relacionamentos, o lazer e o trabalho em uma perspetiva mais holística;
  • Promoção do bem-estar em todos os níveis e da autorrealização enquanto indivíduo pertencente a um território;
  • Responsabilidade pelos recursos materiais;
  • Simplicidade voluntária e minimalismo;
  • Consumo consciente.

Tem sido notório o crescente número de pessoas que têm adotado novos métodos de consumo, o que não significa que estão a consumir menos, um dos objetivos do Slow é que o consumo seja mais qualitativo.

A adaptação dos valores do movimento Slow nos negócios proporciona às empresas a oportunidade de trabalhar seguindo princípios mais sustentáveis. Aliás, a adoção de práticas de sustentabilidade já é considerada uma tendência de mercado.

Várias marcas nacionais já aderiram a esta nova tendência, como por exemplo a Delta Cafés que lançou o Slow Coffee, que recria um ritual antigo de preparação e café com um toque moderno, sofisticação e inovação, oferecendo uma experiência sensorial de café que deve ser apreciada calmamente e com tempo, convidando os consumidores a apreciarem o momento.

Alojamentos turísticos sem wi-fi ou televisão, como é o caso da Cerdeira – Home for Creativity ou da Offline Portugal, onde convidam os hóspedes a experiências offline como o surf, yoga ou artesanato.

Existe também um grupo de consumidores cada vez mais atento e preocupado com o seu meio envolvente, pessoas com uma maior ligação à natureza e a um estilo de vida mais comunitário. Neste contexto, as soluções de horta em casa ou em condomínios, como a Noocity e a Life in Bag, ajudam na promoção de uma cultura de bem-estar individual e social.

Peças de roupa concebidas sob o conceito Slow Design, como é o caso da Mia-Mô, produção sem stock, coleções limitadas e peças intemporais, com tecidos portugueses de excedentes de produção e/ou sustentáveis.

O Esporão, empresa que produz vinho, azeite e cerveja artesanal também tem uma nova assinatura – Slow Forward,que vinca todo o percurso que esta empresa tem feito para se tornar mais sustentável, além de uma reflexão do seu propósito.

A Slow Fashion também serviu de inspiração para a designer Eliana Barros que criou a Ownever, uma marca de malas criadas manualmente, apenas por encomenda, em bioleather, tingidas com tintas vegetais e embaladas em algodão orgânico.

Desde 2009, o Slow Movement Portugal tem vindo a trabalhar para se afirmar como um movimento transversal.

Tratando-se de uma cultura que preza uma vida com menos pressa, mais tempo e mais qualidade. Procurar o equilíbrio, não cair em excessos e procurar a “boa lentidão”.

A falta de tempo, a necessidade de viver o tempo que temos com qualidade e bem-estar, a vida com menos pressa, constituem necessidades reais, autênticas e comuns à maioria das pessoas das sociedades ocidentais.

Olhando para o nosso país, os portugueses têm uma alma naturalmente slow, são um povo tranquilo e com tendência para a descontração, mas por outra, embora a produtividade seja muitas vezes posta em causa, a verdade é que trabalham mais horas do que a maioria dos países europeus, o que significa que têm uma vida mais sobrecarregada e com pouco tempo de lazer.

A Universidade Católica Portuguesa realizou um estudo onde se conclui que metade dos portugueses não adota um estilo de vida calmo, no entanto desejam fazê-lo, e 48% dos inquiridos afirmaram que nos últimos cinco anos já tinham começado a alterar o seu estilo de vida.

Chegaram assim à conclusão de que quem abranda tende a ser mais feliz.


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